Essa semana estive pensando em como é o estranho mundo dos encontros. E essa é uma coisa que eu tenho feito com alguma frequência; pensar.
Primeiro que ultimamente a coisa mais difícil é você conhecer alguém da maneira tradicional, sendo apresentado por alguém ou ainda puxando assunto em algum lugar qualquer.
Explico. Hoje em dia, com a quantidade de informações que nós colocamos nas redes sociais qualquer conversa de mais de 30 minutos pode acabar se tornando enfadonha, chata, até irritante em certo nível. Isso porque tudo o que seria assunto para tentar criar algum tipo de vínculo já foi descrito nos perfis das pessoas. Livros que leu. Filme favorito. O que faz da vida. Já viajou pra algum lugar diferente. Fala outra língua.
Tentamos tanto pertencer a grupos e círculos de pessoas com interesses em comum, ligados tanto à globalização, possibilidades de conhecer pessoas de qualquer parte do planeta que tenha algum goto em comum com o nosso (mesmo que virtualmente apenas), que não percebemos o quanto isso nos afastou das pessoas de verdade, aquelas que estão à nossa volta.
Isso é muito injusto. Até porque para surpreender a pessoa do outro lado da mesa (supondo que, sim, você conseguiu marcar um encontro presencial; parabéns!), temos que ser realmente criativos, agregar valor! E não é só isso. Porque hoje em dia, as pessoas colocam toda a vida na internet e depois reclamam da falta de privacidade inclusive as fotos.
Sim, as fotos!
Porque não basta nosso concorrente direto de atenção ser culto, gostar de cinema italiano, francês e sueco (que você, pessoa normal, nem sabia que fazia filme), fluente em 7 idiomas inclusive esperanto (quem fala esperanto hoje em dia?!), dar a volta no mundo cada vez que tira férias, ser bem sucedido, trabalhar num lugar legal e ser sensível e emotivo. O cara além disso tem que ser bonito. Tipo um Caio Castro. Aí sim a mulherada da valor no perfil do facebook!
O que a mulherada ainda não se ligou é que um cara culto, fluente em 7 idiomas, que dá a volta no mundo, bem sucedido, que trabalha num lugar legal, é sensível e emotivo e que está solteiro, tem algum mal entendido de público-alvo...
Se bem que a vida não tá fácil pra ninguém, independente do P.A. (público-alvo; já pensou besteira, né?!). E boa parte desse cenário é por conta da internet.
Não que eu seja contra a internet. Ao contrário. Sou da geração que sabe o que significa a frase "sai da internet que eu quero usar o telefone", a mesma que ficava com sono o dia inteiro porque tinha passado a madrugada na internet, porque era o horário mais barato. Salas de bate-papo do UOL, AOL e o que eu mais gostava, do Humortadela.
E a coisa já começava a ir pro buraco nessa época. As pessoas logo se filtravam com algumas perguntas; sexo, idade e de onde. Se já não agradasse logo no primeiro enter, meu amigo, já era. Sexo, ok... temos que saber se o público-alvo é o esperado. Idade, vá lá... evitar problemas legais.
Agora, o que matava era o "de onde".
Sim, porque determinados bairros já condenavam a pessoa a uma existência pífia e sozinha na sala de bate-papo. Se falar que morar no Tatuapé já era devastador, entendo a galera do Capão Redondo ou de Guaianazes. Era melhor falar que morava em um lugar realmente longe e bacana cidade Nova Iorque, por exemplo.
Atualmente virou palhaçada. Agora temos aplicativos de celular para encontrar pessoas que desejam ser encontradas por outras pessoas interessadas em conversar. Oi?!
Sim. Mas se já não fosse um absurdo alguém ter a idéia genial de programar esses aplicativos (e ainda não começaram a cobrar... me contaram...), eles foram feitos para ser como um grande cardápio humano. Aparece uma foto da pessoa e você tem que decidir ali, naquele momento se gosta ou não dela. Até aí é fácil. Até você se dar conta de que tem alguém, em outro celular, te julgando também!!! Ou seja, você tem alguns milésimos de segundo para agradar alguém que também quer conhecer alguém para conversar, assim como você!
E a cada pessoa que passa para você "avaliar" vem com um mini resumo das afinidades. O que vocês gostam em comum!
Caceta!!!
Se eu quero conhecer a pessoa, porque ela tem que vir com um resumo de afinidades?! É pedir demais deixar a gente descobrir sozinhos?!
Até porque, nem sempre um monte de afinidades fazem bem. As diferenças é que são divertidas!
Mas enfim, queria dizer que no último final de semana eu consegui chamar uma menina para sair. A gente não se conheceu através de aplicativo nenhum, foi super natural e old fashion (pra parecer mais moderno). Decidimos não vasculhar as contas do facebook um do outro para não ficarmos com assuntos viciados.
Fomos num bistrô legal que tem aqui em São Paulo, meio bar, meio restaurante. Conversamos durante horas, descobri que ela fez um mochilão pela América do Sul (mas que ainda que ir para a Argentina), que gosta de umas bandas estranhas, que ela dá risada fácil e eu gosto disso.
E aí, lá pela 1h00, aparece o destruidor de primeiros encontros. Sim, meninas. Nós homens já conhecemos essa figura que ronda a noite. Ele aparece sorrateiro, digno de ter suas estratégias de caça estudadas pelo pessoal do Discovery Channel. Ataca sem piedade.
"Que casal mais lindo. O senhor não acha que a moça merece uma rosa?"
Gole baixo. Baixíssimo!
Sim, porque agora, tudo o que a gente tem a fazer é responder Sim ou Não. E isso é como escolher a pílula azul ou a vermelha do Matrix!
Se escolhermos Não, então todo aquele bistrô vai olhar pra gente (homens) como ogros insensíveis, cuja companhia não está valendo nem um botão de rosa. Uma simples florzinha que demonstraria todo o seu apreço pela menina que te acompanha.
O Sim. Essa é a opção mais sábia (na verdade, é a única). Então nós fitamos o predador nos olhos e podemos vê-lo sorrindo, sabendo que nós sabemos que pagaremos caro por esse Sim.
Ao ouvir o Sim, o ato feminino é completamente falso. A menina diz que "não precisa, que não vale a pena e que..." mas ela já pegou a rosa, já cheirou, já abraçou, já bateu uma foto, postou no instagram com um milhão de hashtags e nem presta mais atenção no mundo a sua volta.
Eis então que vem o ataque na jugular.
"Então, quanto é a rosa?"
"Só quinze reais."
Quinze reais? R$15? BRL15? E ainda tem um só na frase?!
Enfim, pagamos. Já sabendo desde o início que seria esse o fim, o predador sai, cantarolando e preparando a próxima emboscada.
Só vi isso dar errado uma vez. Eu estava prestando atenção na mesa do lado (péssimo hábito) e quando o vendedor perguntou se a moça merecia uma rosa, ela (a moça) foi impiedosa.
"Tenho alergia a flores."
Ta aí, cara de sorte.
Acho que antes de qualquer pergunta em qualquer perfil de rede social ou de celular, a gente tinha que saber se a menina é alérgica a flores.
#fica_a_dica_facebook
ps.: parte das histórias é ficção, ou a totalidade delas, ou nenhuma parte delas... Vai saber... Entra no meu facebook e descobre =)